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Cotidiano

Dia do Motorista: a rotina de 12 horas de um motorista de aplicativo

Casado, pai de dois filhos, Alexandre Roberto de Souza viu nos aplicativos de transporte de passageiros uma nova oportunidade

Vanessa Pimentel

Publicado em 25/07/2019 às 08:00

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Dirigindo 12 horas diárias, sem folgar nem um dia da semana, Alexandre consegue mensalmente cerca de R$ 3.000 / Nair Bueno/DL

Alexandre Roberto de Souza, 38 anos, se forma em Direito no fim deste ano. Por 12 anos trabalhou como operador de máquinas, em Cubatão, até que a demissão veio e ele não conseguiu mais se recolocar no mercado de trabalho.

Casado, pai de dois filhos, um de 11 anos e um de 18, Alexandre viu nos aplicativos de transporte de passageiros uma nova oportunidade.

Há quase dois anos, tornou-se um dos 600 mil motoristas de Uber do Brasil. Passou a dirigir também para o aplicativo 99 para aumentar o faturamento mensal.

"Minha esposa é estagiária. Meu filho mais velho ainda não trabalha, sou pai de família não tive escolha, então aluguei um carro e comecei a trabalhar como motorista", explica Alexandre.

Depois de seis meses trabalhando com carro alugado, fez as contas e decidiu que valia mais a pena comprar um automóvel. "O aluguel mensal do carro é quase a mesma parcela de um financiado".

Dirigindo 12 horas diárias, sem folgar nem um dia da semana, nem mesmo aos domingos ou feriados, Alexandre consegue mensalmente uma renda que varia de R$ 2.300 a R$ 3.000. É assim que paga as contas, o sustento, e o curso de inglês do filho mais novo. "Poderia sobrar mais, mas entre parcela do carro, gasolina e manutenção gasto cerca de R$ 2.500 por mês".

Como nem sempre compensa ir almoçar em casa, procura os restaurantes mais baratos e que permitem usar o banheiro. As muitas horas em frente ao volante causam dores nos ombros, na lombar, nos joelhos e vista cansada ao fim de mais um dia de expediente.

Já as vantagens, de acordo com ele, são o horário flexível e o contato com muitas pessoas. "Esses dias levei um advogado e durante a conversa comentei que me formo no fim do ano. Ele deu um cartão e disse que me espera lá para uma entrevista ano que vem", conta.

Ao mesmo tempo que conhecer pessoas é bom, pode ser perigoso. "A gente nunca sabe quem está colocando dentro do carro. O maior medo de um motorista de aplicativo é ser assaltado. Eu já sofri duas tentativas. Em uma delas consegui arrancar com o carro e fugir, na outra fui conversando com o rapaz, explicando que eu era pai de família, que estava na luta para conseguir me sustentar e ele desistiu".

Mesmo com receio, Souza conta que não recusa viagens para lugares considerados perigosos quando sabe que determinados bairros tem "leis internas" que não permitem assaltos.

"Os bairros mais perigosos da região são a Vila Margarida e o México 70. Infelizmente a gente sabe de muitos companheiros que foram levar passageiros lá e acabaram sendo assaltados. Em outros lugares sabemos que não é permitido assalto, então é tranquilo porque eles nos respeitam".

Autonomia x precarização

Enquanto as empresas de transporte vendem seus serviços baseados em autonomia, há quem diga que as condições são precárias, já que não há garantias trabalhistas nesta relação.

A concorrência também pode ser um empecilho, pois a taxa de desemprego alta empurra pessoas para a informalidade. "Com tanta gente na rua, eu preciso trabalhar mais horas para conseguir bater minha meta diária de lucro", diz Alexandre.

Passageiros

Um dos requisitos essenciais para ser motorista é conhecer a legislação de trânsito para evitar multas. Sabendo disso, nem sempre o motorista consegue parar exatamente em frente ao local marcado pelo passageiro, o que gera reclamações, segundo Alexandre.

"Têm muitos clientes que não entendem, não percebem que se o motorista parar em lugar errado e tomar multa, o prejuízo é só dele. Seria bom se eles compreendessem isso".

Com o diploma a caminho, o futuro advogado tem planos de deixar a vida de motorista no retrovisor. "Está sendo uma boa experiência, mas quero trabalhar com a Bolsa de Valores". 

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