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Cotidiano

Rede Social tem contribuído para casos de suicídio, dizem especialistas

Mudanças de comportamento como isolamento, automutilação e impulsividade podem ser alguns sinais

Vanessa Pimentel

Publicado em 13/08/2018 às 10:54

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Apesar de não haver números oficiais precisos, estudos de educadores, médicos e até advogados apontam que a interação dos jovens com as redes refletem na questão do suicídio / Rodrigo Montaldi/DL

“A rede social tem uma capacidade mais brutal. O conteúdo viraliza e todos tem contato, esse é o problema que acaba levando jovens ao suicídio”. A afirmação da médica psiquiatra Alexandrina Meleiro é um dos motivos pelo qual especialistas têm percebido aumento no número de casos de suicídio por conta das redes sociais.

Apesar de não haver números oficiais precisos quando se trata deste tema, estudos de educadores, médicos e até advogados apontam que a interação dos jovens com as redes refletem na questão do suicídio.
Meleiro, que também é coordenadora da Comissão de Estudos e Prevenção de Suicídio da Associação Brasileira de Psquiatria, explica que é comum os pais dizerem que também sofriam bullying nas escolas, como se os jovens de hoje fossem mais fracos. “É aí que entra a rede social. A escola era um local muito restrito. Já na internet, tudo adquire proporções muito grandes”, reitera.

O advogado especialista em redes sociais, Raphael Vita, concorda com a psiquiatra. “A nossa geração não nasceu na internet, então não está sabendo ensinar as crianças sobre as consequências do seu uso”, expõe.

Para o coordenador de Saúde Mental da Prefeitura de Santos, Paulo Muniz, antes dos pais se preocuparem em resolver um problema já existente, devem ficar atentos ao que os jovens fazem. “As redes são importantes, mas nem tudo é aconselhável ou confiável”, ­avalia.

Outro problema das redes é a falsa sensação de que todos estão bem o tempo inteiro, favorecendo a ilusão de que apenas eu estou mal, aponta a psiquiatra. “Vemos uma geração que não tem frustração, tudo é fácil e muito rápido. Mas a vida não é assim. Os jovens não são mais resilientes”.

Se os pais já estão cientes que a criança ou jovem está sofrendo cyberbullying nas redes sociais, teve fotos íntimas divulgadas ou está passando por outro problema relacionado, o primeiro passo é procurar ajuda de profissionais. 

“Tendo a notícia de que a exposição já aconteceu, os pais devem buscar uma rede de proteção, conversar bastante com o jovem e procurar por um psicólogo ou psiquiatra”, diz Muniz. “Na dúvida de como lidar com a situação, os profissionais também podem orientar os próprios responsáveis primeiro”, ­c­omplementa.

Além do mencionado, Meleiro afirma que é importante perguntar claramente se a pessoa está pensando em suicídio e não deixá-la sozinha.

Do ponto de vista legal, Vita orienta que os pais busquem também um advogado, “para que sejam tomadas as medidas legais, que diminuam os prejuízos”. 

Segundo ele, as leis têm avançado muito no que diz respeito à criminalização do que acontece na internet. A Lei Carolina Dieckmann, por exemplo, tornou criminoso o acesso indevido a dispositivo eletrônico.

“Não adianta mais ‘se esconder atrás de uma máquina’. Além da criminalização mencionada, existe também a indenização civil por dano moral”, informa. 

No que diz respeito à crianças e adolescentes, a legislação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) acrescentou como crime a manutenção de material pronográfico infantil - além de sua ­divulgação.

“Temos uma demanda grande e crescente de casos de suicídio envolvendo redes sociais, mas acho que nem metade são descobertos ou punidos. É necessário denunciar, as pessoas precisam entender que há punição para o que se faz na rede também”, esclarece Vita.

Sinais

Mudanças de comportamento como isolamento, automutilação e impulsividade podem ser alguns sinais.

“Jovens que ficam mais tempo na rede, isolados, porque não tem interação com pessoas reais ou que estão sempre com roupas compridas para esconder cortes, podem ser pré-anúncios de risco de comportamento suicida”, afirma Meleiro. As expressões verbais como ‘vocês ficariam melhor sem mim’ e ‘não quero viver assim’ também são indícios. 

No entanto, Muniz alerta que nem todos dão sinais. Por isso, o acompanhamento das redes e a prevenção são o melhor caminho.

Em Santos, um suicídio é registrado a cada 16 dias, em média

Segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde, 23 casos de suicídio foram registrados em 2017 entre residentes de Santos, gerando uma média de 1 caso a cada 16 dias. A faixa etária de 30 a 39 anos foi a com maior incidência, oito casos, correspondendo a 34,7% do total. 

Oficialmente, também foram registrados dois casos de 15 a 19 anos (8,6%), dois casos de 20 a 29 anos (8,6%), dois casos de 40 a 49 anos (8,6%), três casos de 50 a 59 anos (13,3%), três casos de 60 a 69 anos (13,3%), dois casos de 70 a 79 anos (8,6%) e um caso de 80 anos ou mais (4,3%). 
O suicídio representa a nona causa de morte de jovens no Município. 

CVV

O Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma instituição sem fins lucrativos e mantida pelos próprios voluntários, os postos CVV desenvolvem trabalhos de apoio emocional por meio de contatos ­telefônicos, atendimento pessoal, via correio, e-mail e via chat no próprio site da entidade: 
www.cvv.org.br.

Para falar com um voluntário, basta ligar para o número 188. A ligação é totalmente gratuita, podendo ser feita de qualquer aparelho do Brasil.

O CVV recebe em torno de 8 mil chamadas diariamente , 250 mil por mês e 3 milhões por ano.

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