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Cotidiano

'PSDB passou de um partido de líderes para um partido de donos', diz Mario Covas Neto

Decepcionado com a agremiação, ele faz duras críticas ao que sobrou do partido e se lança pré-candidato ao senado pelo Podemos

Carlos Ratton

Publicado em 12/05/2018 às 08:20

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Mário Covas Neto durante visita ao Diário do Litoral / Rodrigo Montaldi/DL

A frase é de Mário Covas Neto que, junto com seu pai, o governador Mário Covas, foi fundador da legenda tucana. Decepcionado com a agremiação, ele faz duras críticas ao que sobrou do partido e se lança pré-candidato ao senado pelo Podemos. Confira os principais trechos da entrevista.   

Diário – Seu pai (Mário Covas) foi fundador do PSDB. Por que a ida para o Podemos?
Mário Covas Neto –
Eu também participei de criação do PSDB. Eu fazia parte do escritório político do meu pai em São Paulo. Respondia por ele. Eu vivia a vida do PMDB, que foi a origem de grande parte do PSDB naquele momento, criado por um grupo de parlamentares pós-constituinte que percebeu que o partido (PMDB) já respondia suas aspirações e convicções.

Diário – O PMDB era governo na ocasião?
Mário Covas Neto –
Sim, Orestes Quércia era o governador de São Paulo. O grupo acabou criando um partido que tinha uma identidade ideológica comum, porque na constituinte ficou clara grande frente feita pelo PMDB e muitas das discussões no Congresso tinham em situações opostos membros do PMDB. Isso fazia com que o partido não tivesse identidade e isso acabou gerando o PSDB que além do comportamento ideológico, tinha o ético.

Diário – E qual foi o caminho político?
Mário Covas Neto –
O inverso. Saímos da situação e fomos para oposição. No primeiro ano, tivemos um rodízio na presidência do partido, exatamente para a legenda não ter dono. No ano seguinte, meu pai foi o primeiro candidato do partido à Presidência da República e, apesar de ser candidato único, houve prévias para a escolha, porque era um processo mais democrático. Essa prática estava tão em sintonia com os anseios da população que, em seis anos, o PSDB ganhou as eleições para os governos estadual e federal. E no Governo do Estado permanece até hoje.   

Diário -  Então, o que ocorreu para o senhor sair?
Mário Covas Neto –
O exercício do poder fez com que houvesse uma modificação nos rumos partidários. Tem pessoas que sentem atração do poder pelo poder.

Diário – João Dória e o Geraldo Alckmin são assim?
Mário Covas Neto –
O Dória pode ser assim, o Alckmin não. Digo que pessoas têm, na sua necessidade de fazer política estarem próximas ao poder. Isso ocorre na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados. Por terem bases eleitorais, querem ficar próximos do Executivo para terem seus pleitos atendidos. A vinda dessas pessoas fez com que o PSDB fosse se transformando em uma outra coisa. Isso culminou com o episódio lamentável da permanência de Aécio Neves na presidência do partido.

Diário – Demorou muito para o partido acordar?
Mário Covas Neto –
Antes mesmo dele ter aprontado, sua postura era muito ruim. Em nenhuma decisão tomada por ele o diretório foi consultado. Ele prorrogou mandato e fez uma verdadeira lambança. E o partido não tomou qualquer atitude. Preferiu e, ainda prefere, tolerar ou fingir que não está vendo ao invés de tomar uma atitude. Isso foi transfigurando o PSDB que passou de um partido de líderes para ser um partido de donos. A democracia foi se perdendo ao longo do tempo. Os interesses das lideranças passaram a predominar em relação a base. O líder indica o caminho e os liderados seguem. O dono, não. Ele define o caminho e quem não seguir é prejudicado.         

Diário – Mas ele já demonstrava problemas no Governo de Minas Gerais e o partido cacifou a candidatura para presidente.
Mário Covas Neto –
Mas, hoje em dia, é muito difícil um homem público, de qualquer nível ou estado, não ter um problema na Justiça. Isso não quer dizer que ele seja corrupto ou mau governante. Hoje, é próprio do sistema que o sujeito responda por qualquer coisa, as vezes absurdas. Responder processo não significa que você seja culpado. Você é suspeito. Você só é culpado após provado e culpado.

Diário – O senhor vai apoiar quem ao Governo do Estado?
Mário Covas Neto –
Márcio França. Das opções que temos, é a melhor, não tenho dúvida alguma sobre isso.

Diário – Qual vai ser sua bandeira no Senado?
Mário Covas Neto –
Propor mudanças. Por exemplo, quando o senador se afasta para assumir uma pasta qualquer no Governo, que assuma o segundo colocado mais votado, independente de partido. Isso vai fazer com que o senador eleito pense duas vezes, pois vai abrir mão de uma posição consolidada nas urnas, do partido, para uma pessoa de outro partido.

Diário – Tem outras?
Mário Covas Neto –
É preciso entender que sendo um representante do Estado, não importa qual o partido que você representa e nem o do governador. O que importa é a luta pelos interesses de São Paulo. E essa luta não pode ser partidária. Meu pai foi governador e Paulo Maluf foi prefeito de São Paulo (capital). Eram adversários históricos e tiveram que ter uma relação de convivência. Por isso, vou tentar incentivar essa postura.

Diário – Álvaro Dias (pré-candidato do Podemos à Presidência) vai tentar acabar com os privilégios. É sua postura também?
Mário Covas Neto –
Todo mundo prega a mesma coisa, mas na verdade Álvaro dias foi autor do projeto que propõe o fim do foro privilegiado e está desde 2013 para ser votado. Ele foi governador e abriu mão de sua aposentadoria que, se fosse somada, daria a ele algo em torno de R$ 10 milhões. Ele também abriu mão de verbas de gabinete. Então, ele é um exemplo de que podemos acabar com privilégios. O País precisa de uma reforma como essa.

Diário – Mas não só no parlamento é preciso acabar com os privilégios.
Mário Covas Neto –
No Judiciário e no Executivo também. Aliás, esse último é o mais ­visado.

Diário – Dá para desatar alguns nós do Estado de São Paulo?
Mário Covas Neto –
No caso da travessia Santos-Guarujá, por exemplo, fazer uma melhor análise técnica e solucionar o problema. Temos que sair só da ideia.

Diário – O senhor acredita que a reforma trabalhista foi ideal?
Mário Covas Neto –
Claro que não, mas avançou. Não se consegue fazer uma reforma em ano eleitoral, pois os candidatos tem pavor da opinião pública. As reformas precisam ser mais profundas. A política e a fiscal precisam ser feitas. É preciso reformar o Estado Brasileiro e consertar as estruturas. A reforma do Judiciário é fundamental. Temos que ter ministros isentos suficientes para tomar decisões. Mas o maior problema ainda é a lentidão do Judiciário e os estímulo à impunidade.

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