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Cotidiano

Colégio encerra atividades e revolta pais e professores em São Vicente

Faltando menos de quinze dias para volta das aulas, famílias estão em busca de uma nova escola para os filhos. Docentes esperam receber o salário referente a junho e as férias de julho

Caroline Souza

Publicado em 25/07/2018 às 08:00

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Colégio Mundial fechou as portas de forma inesperada / Rodrigo Montaldi/DL

O fechamento inesperado de um colégio em São Vicente está gerando revolta em professores e pais de alunos. Sem um comunicado oficial, a notícia do encerramento das atividades do colégio Mundial surgiu em um aplicativo de mensagens de celular.

Faltando menos de quinze dias para o começo do segundo semestre letivo, pais estão em busca de uma nova escola para os filhos. Desempregados, professores esperam receber o salário referente a junho e as férias de julho.

“Um pai de aluno ficou sabendo que a escola iria fechar e foi perguntar para a professora o que tinha acontecido, mas ela nem estava sabendo”, comenta Cláudia Alves, que dava aula de Ciências para o 6º ano. Depois disso, segundo a docente, a notícia começou a se espalhar em grupos de professores por um aplicativo de mensagens de celular.

Entre professores e outros funcionários, a escola contava com uma equipe de 22 trabalhadores, que atendia cerca de 90 alunos, do 1º ao 9º ano, com exceção do 7º ano, que não abriu turma em 2018. Pelo aplicativo, a notícia surgiu no dia 13 de julho. Mas nem todos faziam parte dos grupos.

No dia 10 de julho, três dias antes da notícia, os professores chegaram a comparecer ao colégio para um Curso de Brigada de Incêndio e, de acordo com eles, não havia indícios que a escola iria ­fechar.

“Depois disso, um grupo de professores foi até a escola para confirmar a informação e o diretor disse que talvez fosse fechar, mas não confirmou”, relata Cláudia. “Em nenhum momento fomos comunicados e ainda estamos sem receber”, conclui.

De acordo com Cauê Nascimento, professor de Espanhol, somente no último domingo (22), a secretária do colégio entrou em contato com os professores para avisar que o último dia de funcionamento da escola seria na segunda. Até então, ainda havia professor que não sabia que a escola iria fechar.

“Entretanto, a escola só entrou em contato com os professores do Fundamental 2. Os docentes do Fundamental 1 não receberam nenhum comunicado até agora”, expõe.

Pais

Para os pais, a notícia do encerramento das atividades surgiu da mesma forma que para os professores, por grupos em um aplicativo de mensagens. “Quando vi as mensagens, a primeira coisa que pensei foi: ‘Como pode acontecer isso? Ninguém nos comunicou sobre nada’”, relembra, indignada, Kátia Santos, cujo filho era aluno do 5º ano.

Segundo a mãe, quando ela foi até a escola, a secretária comentou que diversos históricos já estavam prontos. “Neste momento, eu percebi que o fechamento não era novidade. Pois os históricos levam de 15 a 20 dias para ficarem prontos”, explica. “A secretária negou, mas tenho certeza que já sabiam”, completa.

O motivo da indignação de Katia é maior pois ela, assim como a maioria dos pais, efetuou o pagamento da mensalidade de julho e da festa de Dia dos Pais. “Eles ficaram com esse dinheiro e não queriam nem devolver o material de papelaria do meu filho”, comenta.

Katia já conseguiu a transferência para o filho, mas apenas para finalizar o 5º ano. Depois, terá que procurar novamente outra instituição. “Fora o prejuízo, existe a questão psicológica das crianças”, lamenta.

Quando Alessandra Soares foi até o colégio para acertar as mensalidades dos dois filhos, no último dia 16, foi avisada que a escola iria fechar. “A gente percebia que a escola estava com poucos alunos, mas não achamos que iria fechar do dia para noite”, diz.

Salários atrasados

“Trabalhava no colégio desde fevereiro e só recebi dois salários”, diz Cauê Nascimento. “O salário de junho e das férias nenhum professor recebeu”, complementa.
Roseli Aparecida, auxiliar de duas crianças do 2º ano, entrou no começo do ano letivo e afirma não ter desconfiado de nada, apesar dos atrasos em alguns pagamentos. “Em abril e maio, por exemplo, fui paga em mais de uma parcela”, afirma.

No meio de junho, Heloíse Aguiar percebeu que não iria receber os salários atrasados e decidiu parar de dar aulas no local. Ela começou a trabalhar como professora eventual e, posteriormente, foi contratada para dar aulas de inglês e português. “Não pagaram meu salário de maio e nem me registraram. Por isso, no meio de junho eu resolvi sair”, explica. Apesar da atitude, Heloíse tomou um susto quando soube que a escola iria fechar. “Eu imaginei que não fosse receber, mas nunca pensei que o colégio iria fechar”, completa.

Para a professora auxiliar Tatiane da Silva, a situação é ainda pior. Além de desempregada, a docente ficou sem escola para a filha, que estudava com bolsa integral no colégio Mundial. “Deixei o nome da minha filha na Diretoria de Ensino para ver se consigo um colégio para ela, pois não tenho como pagar um agora, desempregada”, lamenta.

Alunos sem escola

Alguns pais ainda não conseguirem encontrar outra instituição para seus filhos. É o caso de Cláudio Serrano, que tem um filho no 2º ano. “No momento estou em negociação de valores com outra escola, mas é bem menor que o Mundial, por que é a única que está aceitando negociação de valores próximo ao que pagávamos”, comenta.

“A situação é completamente absurda, não fomos comunicados de nada”, critica.

Serrano relata ainda que a escola chegou a passar uma lista de outros colégios que teriam uma parceria para transferência, mas, segundo ele, todas com valor de mensalidade bem acima.

Nivaldo Silvano, pai de um aluno do 6º ano também continua à procura de outra escola. “Estamos pesquisando, mas vamos ter que comprar tudo novamente. Foi uma surpresa”, declara.

Prestação de serviços

Segundo o professor Cauê, nenhum dos docentes tinha registro em carteira. “Trabalhamos com um contrato de prestação de serviço que, no meu caso, nem chegou a ser renovado depois de três meses, mesmo eu continuando no cargo”, conta.

“Não tinha nenhum benefício, nem registro em carteira”, comenta Tatiane. A professora auxiliar, que atuava na escola desde fevereiro, disse já ter entrado com uma ação contra o colégio.

Assim como Tatiane, os outros professores estão em contato com advogados para entrarem com ações contra a escola. Alguns, pretendem entrar com ação coletiva.

Motivo do encerramento

De acordo com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, o mantenedor do Colégio Mundial solicitou o encerramento das atividades da unidade no dia 11 de julho, sem que fosse aberto um processo de cassação de autorização, alegando que o colégio não estava mais conseguindo atender às normas para funcionamento da escola, exigidas pela supervisão da Diretoria Regional de Ensino de São Vicente.

Ainda segundo a Secretaria, antes do encerramento das atividades, a direção do colégio encaminhou as matrículas de alunos para unidades próximas. “A documentação para a transferência dos estudantes está disponível na Diretoria de Ensino, que está a disposição dos responsáveis inclusive para realizar o encaminhamento de matrículas para unidades da rede pública”, informa, em nota.

Para os professores, a direção da escola informou que o motivo do encerramento era a falta de Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB).

A Secretaria de Comércio, Indústria e Negócios Portuários informou apenas que o colégio está com alvará de licença suspenso devido à falta de AVCB válido.

Procurado, o diretor não quis comentar o caso, dizendo que não era de sua competência. A reportagem ainda tentou entrar em contato com o dono do empreendimento, mas não obteve sucesso.

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