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Cotidiano

Baixo investimento em cultura causa reação nas redes

Dos cerca R$ 9,23 bilhões municipais orçados para 2018, apenas pouco mais de R$ 57 milhões foram previstos para a área

Caroline Souza

Publicado em 12/09/2018 às 09:30

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O baixo investimento em cultura causou reação nas redes sociais / Rodrigo Montaldi/DL

Vários artistas, agitadores culturais e simpatizantes da área cultural da Baixada Santista reagiram, pelas redes sociais, à reportagem vinculada no último domingo, pelo Diário do Litoral (DL), dando conta que as nove prefeituras da região, em média, investem apenas 0,62% em Cultura. Dos cerca R$ 9,23 bilhões municipais orçados para 2018, apenas pouco mais de R$ 57 milhões foram previstos para a área. Ou seja, menos de 1% da soma de todos os orçamentos juntos.

Entenda:
Baixada Santista não investe nem 1% em Cultura

O ator e diretor do Canteiro de Obras Teatrais de Cubatão, Ivan da Conceição, afirma que embora artistas e população em geral sentem na pele o descaso cada vez maior com a Cultura, é sempre estarrecedor constatar em letras garrafais o quanto essa importante área é subestimada e desacreditada nos planos estratégicos das gestões municipais.

“Em Cubatão, a duras penas, conseguimos reativar o Festival de Teatro, espaço para exposição de nossas produções e no qual os moradores puderam ter mais contato com inúmeras expressões artísticas. E a recepção foi muito muito boa. Mas, infelizmente, esse anseio popular ainda não encontra amplo eco nos atos e ações do Poder Público”, afirma.

Conceição garante que quando o assunto é Cultura, é flagrante o descompasso entre o desejo do povo de Cubatão e boa parte de suas lideranças políticas.

“Recentemente, após grande mobilização dos artistas, obtivemos a aprovação dos Plano e Sistema Municipais de Cultura. Assim, desde já, cobramos que o próximo orçamento municipal de Cubatão reflita inconteste essas novas diretrizes e expresse o real investimento e fomento às produções artísticas. Atendendo de forma responsável, democrática e isonômica nossos diversos e inúmeros segmentos culturais”.  finaliza.

Também de Cubatão, o idealizador e diretor do Teatro do Kaos, Lourimar Vieira, foi curto e grosso. “Situação triste, vergonhosa. A pasta da Cultura é a mais importante que todas as outras porque a Cultura transforma, faz o cidadão mudar seu comportamento. Saúde e Educação já possuem percentuais garantidos por lei. Eu votarei em candidato que vai aumentar a verba da Cultura”, disse.

O ex-secretário de Cultura de Santos e de Cubatão, Raul Christiano, disse ontem que há uma expectativa em relação ao projeto na Câmara dos Deputados, que define 1% da receita de impostos das cidades, mais o Fundo de Participação dos Municípios, em atividades de preservação do patrimônio histórico, produção e divulgação de ações culturais. “Se aprovado, garantirá um mínimo de recursos para atividades hoje à míngua quando se fala na manutenção de teatros, museus e outros projetos, como o de oficinas culturais”.

Emendas

Christiano completa alertando que, mesmo assim, não vai suprimir a necessidade de que os deputados estaduais e federais, bem como os próprios vereadores, apresentem emendas impositivas, que se viabilizem para o setor. “Há muito a fazer para ter todas as garantias possíveis, inclusive leis e programas de incentivo, com parcerias privadas, e um olhar dos governos centrais para a periferia das cidades e para o Interior”.

Para o ex-secretário de Cultura de Guarujá, Odair Dias Filho, a sociedade passa por triste momento de avanço conservador, esmagamento de identidade e aniquilamento da história. “Isso não é apenas descaso, mas um projeto. Além dos orçamentos ridículos e a priorização de eventos de entretenimento, ainda há uma criminosa ação elitista de manter os equipamentos públicos fechados ao invés de abri-los a ocupação dos artistas e dos movimentos culturais e populares”, afirma. 

Poeta, assistente social, licenciado em sociologia e história, pós-graduado em Política e Relações Internacionais, mestrando em serviço social e políticas sociais pela Unifesp, Dias afirma que as administrações “encaram a manutenção desses equipamentos como gasto quando, na verdade, é investimento social. A cultura antecede a Educação, pois é nela que está o alicerce teórico, empírico e incendiário que consolida as expressões da educação formal”, completa.  

Os números do descaso

Considerada capital da Baixada, a Cidade de Santos é a que menos investe em Cultura, proporcionalmente. Dos 2.663 bilhões, o Município aplica somente R$ 4,73 milhões (0,17%) do orçamento na pasta. Depois de Santos vem Itanhaém, que dos cerca de R$ 410 milhões, investe apenas R$ 1,53 milhão (0,37%).

As cidades de São Vicente e Guarujá vem, juntas, em terceiro lugar quando se fala em baixo investimento cultural. A Primeira Cidade do Brasil tem um orçamento anual de 1.063 bilhão e investe R$ 4,55 milhões (0,43%). Já a Pérola do Atlântico, que possui um orçamento de R$ 1.403 bilhão, aplica somente 6,03 milhões (0,43%) em Cultura.

Mongaguá é a quarta colocada em termos de falta de consciência de investimento na área cultural. Com um orçamento de R$ 219,14 milhões, destina R$ 1,056 milhão (0,48%), seguida de Cubatão, que investe R$ 7,77 milhões (0,61%) de seu orçamento que é R$ 1.27 bilhão. Já Praia Grande, cujo orçamento é R$ 1.42 bilhão, investe R$ 8,80 milhões em cultura (0,62%).

Pastas misturadas

Dos nove municípios da Baixada Santista, dois ainda juntam três áreas – Cultura, Esportes e Turismo – num único orçamento. Bertioga, com uma arrecadação de R$ pouco mais de R$ 493 milhões, destina R$ 9,61 milhões (1,95%) para as três pastas. Já Peruíbe, com orçamento de R$ 280,15 milhões, investe R$ 12,92 milhões (4,61%) do total para as três áreas.

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